quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Somos todos ladrões

                       

            Contou-me um amigo muito chegado, que foi aluno de Fernando Henrique na Universidade de Paris, mais conhecida no mundo como Sorbonne, que quando os portugueses aqui chegaram endoideceram.  Estavam no Paraíso!
            Imaginem.  Meses nos conveses das caravelas, Sol impiedoso, bolachas mofadas, vinho de qualidade inferior, água quase podre, avistam terra! Sujos, mal cheirosos, ferram os grandes barcos e caem n’água como bando de meninos.  Grande grupo vai à terra.  Lá encontra frutos deliciosos, água que coloca em dúvida as melhores do mundo.  Sim, tinham alcançado o paraíso!
            Mas os donos, a que tudo assistem, nus, fortes, cheirosos e decididos, assistem ao desembarque pacificamente.  Índios, os donos da terra.  Não foram agressivos.  Nenhuma flecha foi atirada, nenhum arcabuz disparou.  Sabia Portugal que terra aqui existia, mas nunca imaginou sua riqueza.  Houve confraternização.  Índios e brancos festejaram, abraçaram-se, beberam e comeram juntos, e conseguiram entendimento sem nada falar um a língua do outro.  Os marinheiros ficaram literalmente tarados pelas mulheres.  Eram livres, cheirosas, tomavam banho todos os dias, banho de mar salgado e limpo, e após, antes do escurecer, no rio próximo, quando usavam ervas aromáticas no corpo e nos cabelos.
            Este povo, vendo estragada a comida dos que chegavam, ofereceram pratos com alimentos frescos, colhidos no dia ou no anterior, frutas colhidas no dia, risos, danças e alegria.  Sim, sim, era o paraíso!  Proibições não existiam, e tudo o que poderia ser feito, foi feito.  Sem pecado, sem crime, sem problemas de qualquer espécie.
            É pena!  Os índios ainda existem, mas em condições de explorados e furtados da sua terra.  São excluídos.  Os brancos, maioria absoluta, construíram favelas de concreto, exploram a terra sem o menor respeito à natureza, colocam agrotóxicos nas plantações, hormônios nas criações, tomam água poluída por eles mesmos, têm péssimo valor moral e social e são guiados por malévolas políticas que antes ninguém conhecia.
            Triste destino de um povo!


imagem: A Primeira Missa, o/s/t, Victor Meirelles,  Museu Nacional

também publicado na revista eisfluências, Lisboa, Portugal


  

8 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

E de lá pra cá, só ‘evoluímos’! Veio o DNA e aqui instalou-se. Foi se transformando até o ponto de fazer aqui uma pátria honesta, trabalhadora, organizada, com políticos idôneos e responsáveis, com os impostos altíssimos, mas que em contraponto devolvidos à população com saúde maravilhosa, educação gratuita... do nascer até o nosso morrer e com uma aposentadoria merecida, despreocupada. Realmente é o paraíso que as caravelas avistaram! Em outra vida quero voltar para o Brasil!!
Desculpe, mas não dá para levar esse país a sério.
Beijo, amigo.

Anônimo disse...

Tens toda razão Jorge, sua crõnica merece apreciação pela veracidade das sábias palavras.
Gostei de conhecer seu ilustre trabalho.
Abraço!

Célia disse...

... e ai... terminada a fase da criação... olharam para Deus e disseram: - Pô, Criador, você colocou tudo de bom e de melhor no Brasil? E, o resto? Ah! Fiquem "frios"... vocês verão em que mãos deixarei isso tudo!!
Abraço.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Meu caro Jorge... a você, que é advogado, eu pergunto: com que direito fizeram isso? Abraços.

Carmem Velloso disse...

Num debate de nível na televisão, disseram que o problema de estupidez parlamentar é novo. Seria culpa do povo, que votou mal. Mas houve comparação com o Supremo Tribunal Federal, que possuiu mestres notáveis, superiores em sabedoria aos de hoje, e neste caso não se pode dizer "culpa do povo", pois os magistrados daquele tribunal são nomeados pelo presidente da República. Ou seja, o povo, a sociedade brasileira, está marchando para trás.
Beijo, Jorge.
Carmem

marcia disse...

Querido Jorge a culpa foi do Cabral...bjus

Rita de Cássia Zuim Lavoyer disse...

Que texto delicioso.
Tanto verdade linda que da vontade de ser índia lá de 1500.

Euarda Krass disse...

E desde quando a política brasileira prestou? Moro no estrangeiro, mas além de brasileira nata, ai fiquei até os vinte e sete anos. Vim estudar fora, fiquei.
Saudades, meu querido Jorge. Continua um idealista...
Duda