terça-feira, 24 de novembro de 2015

O Brasil está nu

                          

            Desde pequeno, no colégio primário, ouvia dizer pelos mais velhos, professores e livros, que o Brasil era o país do futuro.
            Tempo passou, mundo mudou, fui ficando mais velho e nada.  O país continuava só promessa, ainda que Juscelino tentasse.  Getúlio também, mas bem modesto.  O regime militar tentou.  Itaipu e a Ponte Rio-Niterói foram obras de vulto, não há como negar.  Mas pecaram sério.  Deram pancada e moradia final a muita gente.  Os que pegaram em armas contra, assumiram o risco; não podem reclamar.  Mas a maldade contra um inocente é imperdoável.
            Todo o processo de crescimento, inaugurado por Pedro II veio se desenvolvendo.  Não houve parada, nem mesmo nos tempos negros da inflação desenfreada.  A moeda mudou em definitivo.  O cruzeiro virou Real, valorizado.  Houve mesmo tempo, não curto, que o dólar valia oitenta centavos de Real.  Não era ficção de economistas inescrupulosos.  É fato verdadeiro.
            Que temos hoje? Vergonha, apenas isto.  Os dois primeiros anos do governo Lula foram progressistas, não há como negar.  Mas impressionado com a popularidade, o ex-sindicalista mostrou que não tinha, como não tem, capacidade para gerir um país.  É muito ignorante, nada sabe de economia, história, ou política superior.  Limita-se, diga-se de passagem, com êxito no sindicalismo.  Nada mais.
            Seus anos de governo, após os citados, não colocaram o país no futuro que dizem histórico.  Houve progresso social, ninguém pode negar.  Mas este deve ser sempre acompanhado de progresso econômico, que chegou a existir, mas hoje está estraçalhado. Faltou-lhe visão mais aguçada, esta que só é dada a grandes estadistas.  O Brasil poderia ser a quinta nação do mundo.  Agora, em fins de 2015, não deve ser a décima potência mundial.  O tombo foi grande, que me permitam, foi excessivamente grande.
            Que temos hoje?  Desemprego assustador, colocando o brasileiro cada vez mais amedrontado.  A cada mês que passa, o índice aumenta.  A produção é mínima, algumas indústrias já fecham as portas.  Não existe, no mercado, melhoras em perspectiva, ao contrário. A inflação, sempre subindo, ameaça.
            O presidente da Câmara dos Deputados, homem que deveria ser exemplo para a nação, Eduardo Cunha, está sob investigação no Supremo Tribunal Federal, por ganhos ilícitos de dinheiro. Tem proteção, ou tinha, do governo federal, pois era o único, como ainda continua sendo até a data que esta continua sendo escrita, doze horas e vinte e quatro minutos do dia 24 de novembro de dois mil e quinze, o cidadão capaz e instaurar o rito de impeachment contra a presidente faltosa.
            Para coroar todo este ano malévolo para o nosso país, arrebentaram duas barragens em Minas Gerais, destruindo tudo por onde passam.  Já poluíram o mar costeiro ao Espírito Santo mais de dez quilômetros, uma catástrofe.     
            Não tenho religião formada.  Mas é nessas horas que devemos proceder como os caboclos do interior, que sempre, por respeito e tradição, cumprimentam seus conterrâneos com a saudação “Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo”.  A resposta é “Para sempre seja louvado.”

Imagem:  O Rio Doce, em foto ainda deste ano, antes da catástrofe.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Cotidiano

                

            — Não está como devia.
            — Como?
            — Na temperatura certa. Gelou demais, parece refrigerante.
            A observação partia de um homem de meia idade, sentado confortavelmente numa cadeira de palha macia, com uma taça grande na mão, vinho branco, seco, sol e areia quentes, mas não torturantes, praia quase deserta.  O mar, água translúcida servia para completar o local paradisíaco.
            Quatro pessoas, eram dois casais.  Mulheres bonitas, bem tratadas e cuidadas, dinheiro é fonte poderosa de tratar-se como príncipes do século que estamos vivendo.  Como?  Não há príncipes?  Mas que engano... Há sim, e como!  Aqueles dois provavam isso.
            — Vou dar um mergulho.  Reclame com o garçom.  Este vinho está horroroso.
            Ora, é certo: pessoas que trabalham muito e são bem sucedidas têm todo o direito de gastarem seu dinheiro, não se discute.  O muito confortável hotel dava fundos para a praia, mar sem ondas, tudo muito bem cuidado, mesas pequenas de madeira rústica, as já faladas cadeiras de palha macia, mas muito resistentes, a mata do litoral costuma ser bastante forte.  Surgiu o servidor, as garrafas que se encontravam na sombra, debaixo do guarda-sol de grandes proporções, foram substituídas.  Os que ficaram na areia provaram o vinho e perceberam o cuidado dos responsáveis pelo hotel luxuoso em servir da melhor maneira possível seus clientes.  Ali, a concorrência era grande.
            — Sirva um pouco para mim, Milton. — A mulher era realmente deslumbrante, talvez por ainda ser jovem. Ambas que estavam com os dois ‘coroas’ amigos, não eram casadas com eles, e pouco os conheciam.  Profissionais.  Gente que o próprio hotel se encarrega de escolher com cuidado.  Os testes para detectar doenças sexualmente transmissíveis, nos dias atuais, são muito confiáveis.  Saúde externa e interna era o que não faltava.
            — Bem melhor do que estava aqui, gelado demais   — Tomou um longo gole e permitiu a todos que dessem uma boa olhada nos seios que estavam prestes a pular para fora da parte superior do biquíni.  Mesmo acostumado a ver mulheres lindíssimas, o garçom quase deixa cair a bandeja com duas garrafas de vinho e uma travessa de arenque defumado.
            Tudo era festa.  O sol, o mar, o céu infinito, as mulheres que pareciam ter saído de um conto de fadas.
            Longe, muito longe, um médico e duas enfermeiras, uma delas negra, estavam lutando com a respiração de um menino, parecia ter sete anos idade, coisa assim.  O ar não ventilava seus pulmões.  O grande acampamento de barracas de lona, onde se amontoavam velhos, crianças, mulheres e homens quase todos com as vestes em frangalhos, tudo era uma desgraça só.
            Pouco soro, alimentos usados com parcimônia, quase sem medicamentos, e sem qualquer garrafa de vinho branco, havia gente morrendo.